Pessoas idosas saudáveis e independentes contribuem para o bem-estar de sua família e da comunidade, e descrevê-las apenas como destinatárias passivas dos serviços sociais ou de saúde é perpetuar um mito.
Hoje, no entanto, o número de pessoas idosas aumenta exponencialmente, e muitas encontram-se em situações socioeconômicas complexas e incertas.
Dessa forma, intervenções oportunas permitirão aumentar as contribuições desse grupo etário para o desenvolvimento social e evitar que o envelhecimento populacional se transforme em uma crise para a estrutura de saúde e de assistência social das Américas.
Projeções do envelhecimento populacional
Segundo as estimativas e dados da Organização Mundial de Saúde (2021), em 2030, 1 em cada 6 pessoas terá 60 anos ou mais. Como isso, no Relatório da Década de Envelhecimento Saudável 2021 – 2030, demonstrou que em 2019, 16% da população da Região das Américas era composta por pessoas com mais de 60 anos. A expectativa é que essa estimativa continue aumentando.
Também, estima-se que 36% da população terá mais de 60 anos. Espera-se que a proporção das faixas etárias de 15-64 anos e 65 anos diminua para 6,00 em 2050. Por fim, destaca-se que o número de anos vividos com incapacidade pela população com mais de 80 anos aumentou aproximadamente 77% na última década e meia.
Dentro desse contexto, apesar do aumento da expectativa de vida, muitos desafios surgem no processo de envelhecimento. Estudiosos como Almeida e Gama publicaram em 2022, que cerca de 20% da população brasileira é idosa e em torno de 10% destes possuem chance de desenvolver ou já possuem uma síndrome demencial.
A Doença de Alzheimer é um problema de saúde pública? Indicadores da demência no mundo
A maioria dos estudos de prevalência de demência segundo sua etiologia demonstra que a Doença de Alzheimer é a causa mais frequente, cerca de 50 a 70% do total das demências, acompanhada pela demência vascular. Entre 60 e 64 anos apresenta prevalência de 0,7%, passando para 5,6% entre 70 e 79 anos, e chegando a 38,6% nos nonagenários.
Ressalta-se hoje que no contexto do envelhecimento a Doença de Alzheimer tem alta relevância na população, sendo que a taxa de incidência anual de Doença de Alzheimer aumenta significativamente com o aumento da idade. Estimou-se que, a cada ano, surjam 7,7 milhões de casos de demência no mundo, prevendo que o total de pessoas acometidas deverá dobrar a cada 20 anos, podendo passar de 65,7 milhões em 2030 a 115,4 milhões em 2050.
Doença de Alzheimer como um problema de saúde pública
A OMS caracteriza a demência como uma crise de saúde pública de prioridade mundial. O impacto socioeconômico da Doença de Alzheimer é alto, pois é uma doença crônica, de evolução lenta, podendo durar até 20 anos. Há comprometimento funcional, mental e social, o que provoca dependência total para cuidados complexos, o que reflete na manutenção da saúde das pessoas idosas e na continuidade de sua permanência junto à família.
Em setembro é considerado o Mês Mundial do Alzheimer, e com isso, a ABRAz e a ADI, federação global para mais de 105 associações de Alzheimer e demência em todo o mundo, estão organização uma campanha de suporte pós-diagnóstico, juntamente com a OMS, governos e outros órgãos de saúde pública.
Essa campanha torna-se relevante pois visa conscientizar a população sobre os estigmas em relação a Doença de Alzheimer, pois o preconceito e a discriminação que ainda existem em torno da demência fazem com que muitas pessoas não procurem um diagnóstico, excluindo-se milhões de pessoas em todo o mundo de terem acesso a tratamento e apoio tão importantes.
Em 2050, teremos 3.816.135 milhões de pessoas vivendo com demência no país, que irão precisar de suporte adequado e humanizado. Isto torna essa questão ainda mais urgente, ao se considerar que no Brasil esse suporte é insuficiente e muita das vezes, inexistente.
Deve ser incluído suporte físico, emocional, psíquico e financeiro para melhora da qualidade de vida e auxiliar no planejamento terapêutico do trabalho multidisciplinar em conjunto com demais áreas da saúde como nutrição, fisioterapia, psicologia, enfermagem e assistência social. Dessa forma, representa um desafio urgente para o poder público e profissionais da área da saúde a fim de prevenção e tratamento precoces, através do planejamento na atenção do idoso, efetivação de ações educativas e o auxílio e ampliação de pesquisas voltadas para a Doença de Alzheimer.
Assinam este artigo:
Cássia Elisa Rossetto Verga
Estudante de Graduação do curso de bacharelado em Gerontologia pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo. Atualmente faz estágio na área de pesquisa em treino cognitivo de longa duração pelo Instituto SUPERA – Ginástica para o Cérebro. Tem interesse na área de treino e estimulação cognitiva para idosos, com enfoque em neurologia cognitiva. É membro da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Já foi bolsista PUB da Universidade Aberta à Terceira Idade da EACH-USP, atual USP 60 + nas oficinas de música e letramento digital. Participou como assessora de Projetos e Recursos Humanos na Empresa Geronto Júnior entre os anos de 2019 a 2020.
Profa. Dra. Thais Bento Lima-Silva
Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Docente do curso de Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), Coordenadora do curso de pós-graduação em Gerontologia da Faculdade Paulista de Serviço Social (FAPSS), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É assessora científica e consultora do Método Supera.