Negligenciando o cérebro, eu?
Em 2023 o mundo parece estar no que, até aqui, é o auge de mecanismos que proporcionam comodidade ao ser humano. De tarefas simples a complexas: sobretudo com o auxílio da tecnologia, o cérebro está de fato se esforçando menos para realizar tarefas cotidianas.
Se a comodidade poupa tempo e, em muitos casos até dinheiro, para o órgão mais importante do corpo isso não é nada bom.
A neurocientista parceira do SUPERA Livia Ciacci explica que as facilidades do mundo cotidiano em muitos casos estão negligenciando aquilo que o cérebro precisa enquanto cuidado para criar sinapses.
“Os impactos de um estilo de vida que não cuida da saúde do corpo e do cérebro tendem a ficar mais graves com o passar do tempo. Ser sedentário aos 20 não muda tanto a disposição, mas ser sedentário aos 35 nos torna muito menos resistentes, e ter tido uma vida sedentária chegando aos 50 aumenta muito o risco de doenças cardiovasculares e demências”, alertou a especialista.
Ainda segundo ela, as condições crônicas metabólicas, vasculares e neurodegenerativas não surgem no idoso, elas são cultivadas silenciosamente ao longo de muitos anos antes.
“E nós sabemos disso, só que o cérebro é péssimo em considerar o nosso ‘eu do futuro’, porque o imediato sempre foi mais importante para a sobrevivência, então para deixar de negligenciar os cuidados básicos com o cérebro precisamos dedicar atenção e esforço para melhorar cada hábito do dia a dia”, explica.
Novidade, variedade e grau de desafio crescente
Essas três máximas nos ajudam a entender o que é considerado uma rotina para o cérebro, a curto, médio e longo prazo.
“Quanto mais acelerado, competitivo e compartilhado o mundo, mais temos a sensação de que tudo é mais importante que o básico das nossas necessidades físicas e mentais, e fazemos de tudo para nos adequarmos. É uma grande cilada, pensar que a produtividade vai aumentar se eu dormir menos, ou que dormir o dia todo no domingo vai ajudar no estresse, precisamos nos reconectar com o simples, o básico”, lembrou a especialista do SUPERA.
Negligenciando o cérebro: Como mudar este cenário?
O primeiro passo, segundo a especialista, é tomar consciência do que é necessário melhorar no estilo de vida, priorizar como fazer isso e traçar um plano. É muito comum observar pessoas que começam essas mudanças, mas não conseguem sustentá-las e acabam frustradas. A dica é começar uma mudança de cada vez, com passos pequenos e fáceis, e repetir até ser um hábito. Se sou uma pessoa que toma refrigerante todos os dias, posso começar tomando um dia sim e um dia não, alternando com um suco integral. E só depois tentar parar de consumir.
“Se estou sedentária, não vou me matricular em um plano caro na academia e prometer ir todos os dias às 05:00 da manhã, mas sim começar trocando o elevador pelas escadas, e depois começar alguma aula coletiva que eu ache divertida uma vez na semana. O segredo está nos detalhes”, disse.
10 sinais de que você está negligenciando seu cérebro
Analise o quanto seus hábitos estão negligenciando as necessidades do seu órgão mais incrível:
- Está constantemente dividindo a atenção, fazendo ou preocupada com mais de uma tarefa simultaneamente;
- Não tem plena consciência de como é a própria alimentação, não tem noção se o volume de alimentos ingeridos diariamente está próximo do ideal para seu estilo de vida e acaba comendo mais industrializados do que alimentos naturais;
- Passa mais de 2 horas diárias nas redes sociais;
- Não consegue manter uma rotina mínima de atividade física e movimento corporal por 30 minutos todos os dias;
- Não consegue ter um sono de qualidade, reparador e pela quantidade de horas ideal para a idade;
- Não tem interesse por hobbies ou atividades de lazer fora da rotina e vive imersa sempre nas mesmas atividades;
- Tem preguiça de se dedicar a atividades intelectualmente desafiadoras, como leitura, quebra-cabeças ou aprendizado contínuo de alguma habilidade. A falta de busca por conhecimento ou de desafios intelectuais pode levar à estagnação intelectual, com o cérebro perdendo oportunidades de crescimento;
- Tem alterações frequentes no humor, como ansiedade ou irritabilidade, que podem estar relacionadas a desequilíbrios químicos no cérebro;
- Evita interações sociais e frequentemente prefere interagir apenas via mensagens ou redes sociais, isso pode ter um impacto negativo no bem-estar emocional e cognitivo;
- Costuma fazer uso recorrente de substâncias psicoativas, como álcool e drogas (lícitas ou ilícitas).