Na última quarta-feira (14), a Organização Mundial da Saúde recuou e desistiu da decisão de classificar a velhice como doença na nova versão CID 11 (Classificação Internacional de Doenças), que entraria em vigor em janeiro de 2022. A decisão foi tomada após forte pressão internacional das principais organizações científicas e da sociedade civil.
O médico e gerontólogo brasileiro Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade foi quem confirmou a mudança decidida pela OMS.
Em sua coluna para o site o Método SUPERA, a gerontóloga e parceira científica do SUPERA, Thais Bento, destacou ainda em junho, que a iniciativa “escancarou que o idadismo está presente, inclusive, no meio científico – não sendo, portanto, restrito a leigos – já que mais de 200 cientistas concordaram com tal classificação”, alertou a especialista.
A proposta anterior era fazer a substituição do termo senilidade (código R-54), que já existe na CID, por velhice sem menção de psicose; senescência sem menção de psicose e debilidade senil (MG2A). A OMS divulgou em meados de setembro essa decisão e recuou nesta semana devido à forte pressão negativa, o entendimento foi que, ao assinar um atestado ou um diagnóstico, o médico poderia passar a considerar velhice como doença.
Entenda do idadismo
O idadismo, termo traduzido do inglês “ageism” e utilizado por Palmore (2004) como sendo “o forte preconceito e discriminação contra pessoas idosas”, caracteriza o jovem como um ser superior ao velho, tornando este descartável. “Isto pôde ser evidenciado no início do período de pandemia, com a difusão de piadas e publicações preconceituosas em redes sociais – os famosos “memes” – que satirizavam o fato de idosos “furarem” a quarentena que recebeu o apoio virtual de muitos”, lembrou a professora doutora Thais Bento, especialista e parceira científica do SUPERA – Ginástica para o cérebro.
Velhice não é doença
Para a Organização das Nações Unidas (ONU, 1982), o ser idoso difere entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento. Nos primeiros, são consideradas idosas as pessoas com 65 anos ou mais, enquanto nos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, são idosos aqueles com 60 anos ou mais.
A especialista alertou ainda que “Tratar a velhice como uma referência diagnóstica poderá comprometer, por exemplo, a realização de uma investigação clínica mais detalhada de uma doença, quando esta apresentar sinais e sintomas inespecíficos, que são bastante comuns na velhice. Assim, se o paciente tiver 60 anos ou mais, o médico poderá apenas entender que se trata de um problema de ‘velhice’”, disse.
Além disso, segundo ela, seguindo esta linha de raciocínio, dados utilizados para o embasamento da criação de políticas públicas também poderiam ser comprometidos, porque eles não refletirão as causas de óbitos de maneira fidedigna. “Sabemos, por exemplo, que doenças cardiovasculares, uma das mais prevalentes causas de mortalidade no mundo, podem ser evitadas com um controle de seus fatores de risco, como a presença de hipertensão arterial sistêmica, dislipidemia, diabetes e obesidade. Mas, no caso da velhice, quais seriam seus fatores de risco? Os anos vividos? Deveríamos não chegar a esta fase do ciclo de vida?”, disse.
Envelhecer é um privilégio
A velhice é uma conquista da humanidade. A própria OMS reconheceu isto ao publicar o “Relatório Mundial de envelhecimento saudável”, em 2015, trazendo o conceito de autonomia e saúde, destacando que a velhice seria o resultado das influências biopsicossociais em nosso curso de vida, sendo, portanto, heterogênea e individualizada. “A velhice não é uma doença. É importante que esta informação seja disseminada, por meio de ações educativas e de políticas públicas. E que a longevidade não passe a ser temida pelos velhos e pela sociedade, mas sim, cada vez mais comemorada por toda a sociedade, como uma conquista social e uma importante fase da vida para a realização de sonhos, descobertas de novos significados e de projetos de vida”, concluiu.
Com informações do jornal Folha de São Paulo