O cérebro precisa de exercício. Existem atividades e jogos que o estimulam a criatividade, a concentração e o raciocínio lógico
Fazer ginástica é uma prática que atrai cada vez mais adeptos. O que muita gente não imagina é que o cérebro também precisa ser exercitado. Afinal, de que adianta um corpo enxuto se a mente não dá conta de tantas informações todos os dias? Tanto a rotina, na qual a pessoa é absorvida pelo trabalho, quanto a falta de atividades são verdadeiros venenos para a mente. O cérebro pode ser comparado a um músculo que, se não for usado, atrofia. Por isso, a ginástica cerebral é importante em qualquer idade.
Existem exercícios e jogos de desafio que servem para estimular os neurônios, ampliando a capacidade do cérebro, como se fosse uma academia de musculação. Certas atividades melhoram a habilidade de pensar com rapidez, resolver problemas com agilidade e fazer contas de cabeça – sem precisar de lápis, papel nem da ajuda dos dedos.
O ábaco, por exemplo, pode se transformar no aliado número um de quem deseja potencializar as atividades mentais. A ferramenta milenar, que para alguns não passa de um misterioso joguinho de contas, é utilizada para efetuar os cálculos de adição, subtração, multiplicação e divisão. Em níveis avançado, os alunos usam as habilidades adquiridas e passam a projetar um ábaco imaginário na mente. Assim, trabalham o lado direito do cérebro, responsável pelos dotes criativos. O instrumento faz parte das escolas japonesas. No Brasil, não integra as rotinas didáticas.
2008Em Joinville, existe um lugar especializado em ajudar a ampliar a capacidade de pensamento, que utiliza especialmente o ábaco como ferramenta didática. A Escola do Método Supera reúne alunos de todas as idades. Além de ser freqüentada por crianças com problemas de notas baixas na escola, existem jovens que vão tentar vestibular ou concursos públicos, adultos que querem aumentar a produtividade mental e idosos que temem perder a capacidade de memória.
O método, criação do engenheiro do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (Ita) Antonio Carlos Perpétuo, começou a ser imaginado há seis anos, quando seu filho Vinícius, na época com nove anos, apresentou problemas de falta de concentração, o que gerava freqüentes notas baixas na escola. Depois de tentar uma série de terapias e outras possibilidades alternativas para ajudar o menino, Perpétuo resolveu recorrer ao ábaco. “Me encantei por este instrumento pedagógico que os brasileiros pouco conhecem. Mas o que me encantou mais ainda foi o resultado que ele proporcionou”, conta. Hoje, com 15 anos, Vinícius não é apenas fera na máquina calculadora manual, como nunca mais teve de sentir o gosto amargo de tirar notas baixas nas provas do colégio.
“Eu e uma equipe de pedagogos ocidentalizamos a utilização do ábaco. Desenvolvemos uma maneira eficiente para abrir horizontes”, analisa Perpétuo. Ele garante que, ao mesmo tempo que potencializa a capacidade de arranjar respostas rápidas e inteligentes para qualquer desafio cotidiano, o aluno que utiliza o método ainda ganha pontos a mais em liderança e auto-estima. “O reflexo na área comportamental é inquestionável”, diz. Nos idosos, segundo Perpétuo, a ginástica cerebral ajuda até mesmo no tratamento de doenças como o mal de Alzheimer, impedindo o avanço rápido da doença. “Quanto mais informações os neurônios recebem, criam novas ligações, as chamadas sinapses”, explica.
Para o pesquisador e escritor joinvilense Jorge Hoffmann, estimular os músculos cerebrais é uma prática imprescindível, especialmente para as crianças. Ele diz que a falta de criatividade de muitos adultos é resultado de uma educação muito racionalista na escola desde a infância. “Muitas vezes, apenas o hemisfério esquerdo do cérebro é estimulado”, diz. “O lado direito, responsável pela criatividade, quase não é usado. O que acontece nas escolas é que os adultos impõem seu mundo racional para as crianças. O ideal seria que eles tentassem entrar no universo infantil”, diz.
Jorge acredita que a maneira de educar as crianças deve ser revisada e já está fazendo a sua parte: reproduz com material reciclado jogos clássicos – e outros nem tanto – que ajudam a deixar o cérebro cada vez mais ativo. “Durante um jogo de desafio e lógica, a pessoa fica com os dois lados do cérebro estimulados e equilibrados. Assim, o jogador estimula a criatividade e aprende ao mesmo tempo.”
Fonte: A Notícia (Joinville – SC)