Você já ouviu alguém dizer que tem “memória de elefante” e ficou imaginando o que, afinal, os elefantes têm a ver com isso? Será que eles andam por aí decorando listas de compras ou lembrando aniversários? Pode parecer estranho, mas essa expressão popular não surgiu à toa. Prepare-se para uma viagem divertida pelo reino animal e descubra por que, quando o assunto é memória, os elefantes são os verdadeiros “gênios” da savana!
A expressão “memória de elefante” vem da observação da forma como os elefantes parecem se lembrar de eventos, lugares e até mesmo de outros elefantes por longos períodos. Na natureza, essa memória notável é crucial para a sobrevivência, já que eles se lembram de fontes de água e pastagens no habitat natural deles, que é a savana, onde esses recursos podem ser escassos. O reconhecimento de membros da manada é essencial para proteção e cuidado com os membros, identificar elefantes de outros grupos podendo ajudar a reconhecer ameaças ou alianças, sendo uma estratégia de defesa e colaboração.
A memória também é fundamental para as rotas migratórias, já que as matriarcas lideram as manadas para rotas baseadas nas memórias acumuladas ao longo dos anos, facilitando o conhecimento dos melhores caminhos e pontos de parada seguros. Essas memórias são sustentadas por um cérebro muito parecido com o humano, com hipocampo e os lobos temporais bem desenvolvidos.
Segundo a neurocientista e parceira do SUPERA – Ginástica para o Cérebro, Lívia Ciacci, podemos entender as diferenças entre o cérebro humano e dos outros mamíferos como diferenças de “grau” e não de essência. “Na essência, temos os mesmos moldes de funcionamento, mas em graus e aplicações diferentes. Muitos animais também conseguem processar informações diferentes de nós a partir dos seus sentidos, como os morcegos com seus radares e os gatos com suas vibrissas”, conta.
A neurocientista conta que pessoas que têm memórias muito acima da média podem ter treinado estratégias de memorização que melhoram a performance ou possuem a síndrome da supermemória – chamada de “Memória Autobiográfica Altamente Superior”, ou HSAM na sigla em inglês, também conhecida como Hipertimesia.
“Quando há treino para melhorar a memorização de algum tipo de informação, a área do cérebro correspondente a esse processamento passará por adaptações, para responder a esses novos estímulos. Como ocorreu com o famoso caso dos taxistas de Londres, que passaram a ter mais massa cinzenta na parte posterior do hipocampo e menos na frente do hipocampo, em comparação com outras pessoas, após o treino para memorizar as ruas da cidade. O hipocampo é uma região relacionada com a memória e orientação espacial”, explica.
A neurocientista reforça que a capacidade de memorização nos cérebros das pessoas, biologicamente falando, é muito parecida nas populações e o que faz uma pessoa ter um desempenho prático melhor que outras está mais ligado aos hábitos, estilos de vida e, talvez, traços de personalidade. “Reter informações e conseguir se recordar de detalhes específicos com clareza e precisão são habilidades comuns em pessoas curiosas, atentas a tudo em volta, questionadoras e interessadas. Ter a famosa ‘memória de elefante’ depende da curiosidade e da vontade de aprender, que contribuem para a retenção de informações. Mas também não basta reter, é preciso ser detalhista o suficiente para organizar mentalmente as informações captadas, criando associações com outros conhecimentos para facilitar o acesso e a recuperação”.
Ela conta ainda que ter boa memória também não garante “inteligência”, que é um conceito mais relacionado com a capacidade de aplicar os conhecimentos ou resolver problemas. “Existe um mito comum que associa o envelhecimento com perda de memória, porém, quando uma pessoa cuida da saúde e mantém um estilo de vida ativo fisicamente e intelectualmente, é perfeitamente normal envelhecer mantendo o funcionamento da memória. Quando treina estratégias de memorização, a neurociência explica a melhora do desempenho por meio dos estudos da neuroplasticidade.”
E reforça que “todos nós temos a memória de longo prazo, que pode ser subdividida em dois tipos diferentes: memória explícita, que corresponde às memórias que estão prontamente acessíveis à nossa consciência e que podem ser evocadas através de palavras; e memória implícita, que corresponde às memórias que estão em nível subconsciente, não podendo ser evocadas por palavras, mas sim por ações. As memórias da nossa infância, das viagens, da nossa história de vida e de tudo que aprendemos são explícitas. As memórias sensoriais, de procedimentos (como andar de bicicleta) e emocionais são implícitas. E as explicações científicas por trás dessa capacidade do cérebro são alterações estruturais nos circuitos dos neurônios e alterações sinápticas funcionais na maneira que eles se comunicam. Tais alterações ocorrem sempre que uma memória é ‘consolidada’ em memória de longo prazo”, conclui.
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