Ginástica para o cérebro e neurociência : Tire suas dúvidas e entenda a relação entre as duas frentes
Os resultados dos estímulos que envolvem novidade, variedade e grau de desafio crescente, ou ginástica para o cérebro, ganham força em muitos estudos que comprovam – através da neurociência, porque a prática é tão eficaz para diferentes faixas etárias.
O que é a neurociência?
A Neurociência é um campo interdisciplinar que estuda o sistema nervoso, incluindo o cérebro, a medula espinhal e os nervos, buscando compreender a estrutura, função, desenvolvimento, genética, evolução e patologia desses componentes. Essa área abrange diversas disciplinas, como biologia, psicologia, física, matemática e ciência da computação, para explorar como o sistema nervoso opera e influencia o comportamento e as funções mentais.
Os neurocientistas investigam desde os níveis mais microscópicos, como os processos bioquímicos em uma única célula nervosa, até os padrões de atividade cerebral complexos que surgem durante comportamentos e pensamentos. O objetivo final é compreender a relação entre a estrutura e a função cerebral, bem como suas implicações para a cognição, emoção, comportamento e saúde em geral.
O que é ginástica para o cérebro?
A expressão “ginástica para o cérebro” se refere a atividades ou práticas que visam estimular e exercitar as funções cerebrais, promovendo a cognição e a saúde mental. Essas atividades têm o propósito de desafiar o cérebro de maneira positiva, incentivando o desenvolvimento de habilidades cognitivas, como memória, atenção, raciocínio lógico e criatividade.
Alguns exemplos de ginástica para o cérebro incluem:
- Quebra-cabeças e jogos mentais: Palavras cruzadas, sudoku, quebra-cabeças, jogos de tabuleiro estratégicos e outros desafios mentais.
- Aprendizado de novas habilidades: Aprender a tocar um instrumento musical, praticar um novo idioma ou explorar atividades que exigem coordenação e concentração.
- Exercícios físicos: A atividade física regular tem benefícios comprovados para o cérebro, promovendo a circulação sanguínea, melhorando o sono e estimulando a saúde das células cerebrais.
- Meditação e mindfulness: Práticas que promovem a atenção plena e a consciência podem ajudar a reduzir o estresse e melhorar a clareza mental.
- Cálculos com o ábaco: Utilizar o raciocínio matemático de forma concreta e visual estimula outras áreas que não são utilizadas no cálculo abstrato e tem o potencial de aumentar a velocidade de processamento, além de melhorar a eficiência da memória de trabalho em conjunto com a atenção focada.
- Desafios intelectuais: Participar de debates, discussões ou até mesmo envolver-se em projetos que exijam pensamento crítico e resolução de problemas.
Em resumo, a “ginástica para o cérebro” envolve atividades que desafiam e estimulam o funcionamento cognitivo, contribuindo para a manutenção da saúde mental e reserva cognitiva, e para o desenvolvimento contínuo das capacidades cerebrais.
Qual é a relação da ginástica para o cérebro com a neurociência?
A relação entre a ginástica para o cérebro e a neurociência está fundamentada na capacidade do cérebro de se adaptar e se modificar em resposta a estímulos e desafios. A neurociência estuda a estrutura e a função do sistema nervoso, incluindo o cérebro, e busca compreender como ele processa informações, regula funções corporais e está envolvido no comportamento e na cognição.
A ginástica para o cérebro, que envolve atividades que desafiam e estimulam as funções cognitivas, está alinhada com os princípios da neuroplasticidade, que é a capacidade do cérebro de se reorganizar estrutural e funcionalmente em resposta a experiências. Quando você se envolve em atividades que desafiam o cérebro, como resolver quebra-cabeças, aprender novas habilidades ou participar de jogos mentais, você está estimulando conexões neurais, fortalecendo sinapses e promovendo a aprendizagem e, com o tempo, levando a execução de raciocínios complexos com menor consumo de energia.
Além disso, algumas práticas de ginástica cerebral, como a meditação e o mindfulness, podem ter impactos positivos mensuráveis na estrutura e na atividade cerebral, conforme demonstrado por estudos neurocientíficos.
Em resumo, a ginástica para o cérebro está alinhada com os princípios da neurociência, pois ambas buscam compreender e otimizar o funcionamento do cérebro, promovendo benefícios para a saúde cognitiva e mental.
A neurociência comprova a ginástica para o cérebro?
A relação entre a ginástica para o cérebro e a neurociência é complexa e envolve diversos estudos e pesquisas em áreas diferentes. Vamos explorar alguns pontos:
Neuroplasticidade: A neurociência comprova a existência da neuroplasticidade, que é a capacidade do cérebro de se adaptar e modificar sua estrutura em resposta a estímulos do ambiente. Isso significa que, ao se envolver em atividades desafiadoras, como jogos mentais, aprendizado de novas habilidades e outras formas de ginástica cerebral, as conexões neurais podem se fortalecer e novas sinapses podem ser formadas.
Estudos Científicos: Muitos estudos científicos sugerem que certas práticas, como aprender estratégias de memorização, treinar etapas de pensamento crítico, aumentar o nível de escolaridade e atividade intelectual e atividades que envolvem raciocínio, podem ter efeitos positivos na cognição, no funcionamento cerebral e na manutenção da reserva cognitiva ao longo da vida. Também existem uma série de estudos científicos apontando como o ábaco é uma ferramenta útil para o ganho de velocidade e eficiência de processamento neuronal.
Interação interpessoal: Práticas de debates em grupo e jogos coletivos também exercem um forte efeito no cérebro, e tem crescido o número de publicações científicas que apontam a socialização e o engajamento em comunidades como um fator essencial para a qualidade de vida e prevenção não só do declínio cognitivo, mas também dos quadros de ansiedade e depressão, principalmente nos idosos.
Limitações: No entanto, é importante notar que nem todas as formas de ginástica cerebral têm a mesma base científica sólida. Algumas alegações sobre produtos comerciais ou métodos específicos podem ser exageradas e carecer de evidências robustas, fique atento!
Existem estudos em neurociência sobre ginástica para o cérebro?
Existem estudos sobre cada uma das estratégias e ferramentas que são utilizadas em um método de ginástica para o cérebro.
A relação da neurociência é nova ou já é observada há anos?
A neurociência moderna como um todo é uma ciência muito recente, mas desde os primeiros experimentos na década de 90 foi possível observar a capacidade do cérebro se adaptar e se moldar aos estímulos.
O que os cientistas precisam saber sobre a ginástica para o cérebro?
Que a Neurociência contribui com parte do contexto em que ocorre a aprendizagem. Conhecer como o cérebro aprende e se desenvolve e como a seleção e a organização do mundo de estímulos por um mediador intencional (um educador) proporcionam aos alunos experiências de alta qualidade relevantes para o desenvolvimento cognitivo, social, físico e emocional. Ou seja, o método de ginástica para o cérebro combina ferramentas de estímulo com interações humanas motivadoras.
Quais estudos da neurociência apontam para a eficácia da ginástica para o cérebro?
Os estudos científicos são estudados por áreas, dentre aqueles que apontam a eficácia da ginástica para o cérebro, temos:
Neuroplasticidade: Atualmente, a neuroplasticidade é um conceito amplo e estudado por autores no mundo inteiro. Chang (2014) publicou uma revisão, concluindo que a neuroplasticidade funcional e estrutural ocorre não apenas no domínio motor, mas também em domínios cognitivos e perceptivos associados com desempenhos melhorados. Referência: CHANG, Y. “Reorganization and plastic changes of the human brain associated with skill learning and expertise,” Frontiers in Human Neuroscience, vol. 8, p. 35, 2014.
Reserva Cognitiva foi um conceito criado para explicar a divergência entre graus de dano cerebral e o resultado clínico. Por exemplo, uma lesão de mesma magnitude pode resultar em diferentes níveis de comprometimento cognitivo e taxas de recuperação entre duas pessoas.
Fatores como a educação, atividade física, dieta saudável e rotina de atividades intelectuais e sociais são importantes para o desenvolvimento de uma reserva cognitiva.
Dr Yaakov Stern é um dos principais autores da área, sendo que suas publicações são referência no Supera para entendimento da relação entre estilo de vida, reserva cognitiva e prevenção de demências. Referência: Cognitive Reserve: Theory and Applications. Yaakov Stern. Psychology Press, 2006.
Estimulação cognitiva: No livro “The Organization of Behavior” de 1949, Donald Hebb propôs que a estimulação cognitiva poderia ser uma ferramenta para melhoria da cognição.
Atualmente Paul Verhaeghen e Timothy Salthouse são autores expoentes na área. Verhaeghen é conhecido pelas pesquisas sobre a eficácia de intervenções de estimulação cognitiva e declínio cognitivo relacionado a idade.
Salthouse tem numerosos artigos e livros sobre envelhecimento cognitivo e desempenho intelectual, e argumenta que a diminuição na capacidade de processamento pode ser causada por fatores biológicos (envelhecimento das células) e fatores ambientais (falta de estímulos mentais).
Ele também desenvolveu a teoria da “compensação cognitiva”, sugerindo que as pessoas podem usar estratégias para compensar declínios da idade. Referência: SALTHOUSE, Timothy A. Working-memory mediation of adult age differences in integrative reasoning. Memory & Cognition, Atlanta, Georgia, v. 20, n. 4, p. 413-423, 1992
Também acompanhamos pesquisadores contemporâneos importantes mundialmente:
Antônio Damásio é português, atua como professor de neurociências e diretor do Instituto do Cérebro e da Criatividade na Universidade do Sul da Califórnia. Suas descobertas na área da mente e do comportamento tem ênfase na emoção, tomada de decisões, memória, comunicação e criatividade, fazendo dele um líder com reconhecimento internacional.
Eric Kandel é austríaco naturalizado estadunidense e ganhador do Prêmio Nobel de Fisiologia e medicina pelas descobertas sobre a transmissão de sinais entre neurônios no cérebro humano e as bases moleculares da memória.
Ivan Izquierdo foi argentino radicado no Brasil e deixou um vasto legado de referências sobre a memória humana em 60 anos de carreira, e seu laboratório – o Centro de Memória da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – atualmente mantém pesquisas constantes sobre a memória.
Stanislas Dehaene é francês, atua como professor do Collège de France e diretor da Unidade de Neuroimagem Cognitiva, pesquisando a cognição numérica, as bases da leitura e os correlatos neurais da consciência.
Eleanor Maguire é irlandesa e pesquisadora de memória e espaço da University College London, avançando em descobertas sobre memória episódica e as relações cérebro-comportamento incluindo uso de realidade virtual.
Ginástica para o cérebro e neurociência: Como estão os estudos neste sentido no Brasil?
O Brasil ainda publica muito pouco na área de estimulação cognitiva, mas existem muitos laboratórios importantes, como por exemplo o Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, o Laboratório de Neurociências e Reabilitação Neurológica da Ufscar e os vários laboratórios de pesquisa em Neurociências da UFRJ.
No Supera, também acompanhamos e utilizamos referências produzidas por cientistas proeminentes do Brasil. Suzana Herculano-Houzel é brasileira e atua como professora associada na Vanderbilt University, onde seu laboratório investiga a extensão e as limitações da diversidade cerebral, com interesse no metabolismo cerebral, desenvolvimento, sono, cognição e expectativa de vida. Roberto Lent é membro titular da Academia Brasileira de Ciências e tem forte atuação na divulgação científica, com foco na neuroplasticidade do córtex, educação e importância da neurociência. Também é fundador da “Ciência Hoje”, primeira revista de divulgação científica do país.
Em relação ao futuro qual será a importância da ginástica para o cérebro e o que diz a neurociência sobre isso?
Primeiro, precisamos entender o que é ter um cérebro bem exercitado, estimulado, funcional. Refere-se a ter a funcionalidade cognitiva do cérebro, emocional e executiva necessária para se desenvolver no ambiente, nas situações que enfrentamos a cada dia e naquelas a que estaremos sujeitos a enfrentar em alguns anos (ou talvez décadas). Portanto, é evidente que potencializar a capacidade do cérebro nos ajuda no tempo presente e ao longo da vida.
Em outras palavras, não é algo para começar a nos preocupar quando tivermos 60 anos ou 70 anos. Isso é verdade por duas razões: em primeiro lugar, otimizar a funcionalidade do cérebro — tão importante, em qualquer idade — como também os impactos de seu funcionamento executivo: gerir situações estressantes, manter o foco e a boa atenção sustentada para evitar distrações, a habilidade em flexibilidade mental; elaborar estratégias eficazes, a boa organização, planejamento e a alta capacidade de resolver problemas; persistir na execução de planos de ação, ser seletivo no controle de respostas, análise e consequências a longo prazo; ter habilidade na regulação emocional, ou seja, capacidade de reconhecer e gerenciar emoções, de prosperar, ter sucesso em cada momento da vida, pessoalmente e profissionalmente
O futuro é incorporar na nossa rotina os cuidados com o estilo de vida para um cérebro e corpo mais saudáveis e funcionais.
É preciso investir em uma abordagem mais ampla enfatizando uma visão do cérebro mais integrado e harmonioso que melhore o desempenho cognitivo e que possibilite a transferência dessas habilidades para as atividades diárias e para a melhoria da autoestima.
Que seu efeito possa impactar na construção da reserva cognitiva, não sendo restrito à prevenção da demência, mas englobando a trajetória ao longo da vida de um cérebro saudável e com alto desempenho.
Assina este artigo:
Livia Ciacci – neurociencista parceira do SUPERA – Ginástica para o cérebro
Natural de Varginha (MG), Livia é bióloga e Mestre em Neurociência. Aos 35 anos a acadêmica é graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de São João Del-Rei (UFSJ 2009) e possui especialização em Análises Clínicas pela Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL 2011). Mestre em Bioengenharia dos Sistemas Neuronais pelo Laboratório de Neurociência Experimental e Computacional – LANEC / DEPEB da UFSJ (2014), com módulo Internacional em Saúde pelo Instituto Politécnico de Santarém, Portugal, em 2015.
Possui especialização em Biomedicina do Diagnóstico por Imagem pelo Centro Universitário do Sul de Minas finalizado em (2017) formação de professores em Metodologias ativas de ensino pelo Consórcio STHEM Brasil – parte do Programa Acadêmico e Profissional para as Américas – LASPAU, afiliado à Universidade de Harvard, que tem se dedicado à missão de fortalecer o ensino superior no Hemisfério Ocidental (2016) e participação ativa no consórcio até 2020. Possui ainda aperfeiçoamento em ferramentas G-Suite para inovação e educação (2018), é facilitadora pelo Programa de desenvolvimento de facilitadores Wadhwani Foundation em (2019) e possui aperfeiçoamento em Psicologia da Inovação pela FIAP (2021).