Supera – Ginástica para o Cérebro

Dra. Thaíla Picanço: Fatores de risco que contribuem para as demências

Nesta entrevista, a coordenadora de Marketing e Comunicação do Supera, Isabella Rabelo, conversa com a geriatra Thaila Picanço sobre a prevenção da Doença de Alzheimer. 

Supera:  Estamos aqui hoje,no CBGG 2025, no estande do Supera, onde recebemos a doutora Thaíla Picanço, que vai conversar um pouquinho hoje sobre a doença de Alzheimer e prevenção. Obrigada, doutora Thaila. 

Dra. Thaila: Uma satisfação estar aqui com vocês.


Supera: Doutora, quais são os principais desafios enfrentados para evitar precocemente as demências? 

Dra. Thaíla Então, quando nós falamos de prevenção de demências, a gente tem que falar dos fatores de risco, né? E a gente tem dois grandes grupos de fatores de risco. Os fatores de risco não modificáveis, ou seja, o que a gente não consegue intervir, que são a idade avançada. Então, a gente sabe que pacientes com mais de 65 anos têm maior chance de desenvolver demência em geral e demência de Alzheimer.

O gênero feminino é outro fator de risco,  as mulheres têm uma maior prevalência de demência também. E as questões genéticas, a gente sabe que tem alguns genes de suscetibilidade na demência de Alzheimer, por exemplo, como o Apoepsia 4. E mais raramente, nos casos de demência de Alzheimer de início precoce, que acomete pessoas com menos de 60 anos de idade, nós temos genes que são genes da presenilina 1 e 2 e da proteína precursora amilóide. Então, nesses fatores, a gente não tem como intervir. 

Porém, recentemente foram publicados estudos na literatura científica, no ano de 2024, que pontuaram 14 fatores de risco ditos modificáveis. Ou seja, se a gente atuar nesses fatores, prevenir esses fatores de risco ao longo da vida, a gente consegue reduzir em até 45% a prevalência de demências. 


Supera – Que é um número bastante alto
Dra. Thaíla –
Muito.  E esses fatores atuam nas várias fases de vida. Então, eu posso citar aqui, nos primeiros anos de vida, a baixa escolaridade, que é um fator de risco muito significativo. Então, pacientes, pessoas jovens que têm baixa escolaridade, baixa qualidade de estímulos, têm uma menor reserva cognitiva.

Então, isso prediz um fator de risco maior para idades mais avançadas para desenvolver demência. A gente tem também os fatores de risco de meia-idade, que acometem mais pessoas de 30 a 59 anos, que são aqueles fatores de risco de presença de diabetes, de hipertensão arterial, tabagismo, uso excessivo de álcool, colesterol LDL elevado, a inatividade física, a obesidade. Então, são todos os fatores de risco que a gente deve combater nessa meia-vida na cidade de adultos.

Temos também os fatores de risco que incidem em idades mais avançadas, já nos idosos mesmo. Então, o déficit  visual, o déficit  auditivo, que a gente precisa combater no idoso, que são muito frequentes. E também o isolamento social e até questões relativas à poluição do ar, que são fatores que hoje contribuem para as demências.

O nosso grande desafio é fazer com que os indivíduos tenham essa educação em saúde, entendam a importância de mudar o estilo de vida, dos hábitos de vida saudáveis em todas as fases da vida. E não só essas escolhas individuais. A gente precisa também que o cenário político fomente mais ações que contribuam para prevenir essas doenças.

Então, por exemplo, campanhas para evitar o tabagismo, o alcoolismo. Campanhas, eu mencionei, mas o trauma crânio também é um fator de risco. Então, campanhas para evitar a queda de idosos, os idosos caem.

Tem trauma crânio, não é um fator de risco para a demência. Acidentes automobilísticos lá, fase mais jovem. E campanhas também para melhorar a poluição do ar e o meio ambiente.

Então, quando a gente age todos esses fatores, aqui no Brasil a gente tem uma potencialidade muito grande para reduzir esses dados e essa estatística das demências. 


Supera – Legal, doutora Thaíla! Agora, a gente se atendo a fatores dos quais a gente consegue cuidar, a estimulação cognitiva pode contribuir, certo? Como a estimulação cognitiva contribui para a prevenção de demências?

Dra. Thaíla –  Então, quando a gente fala, por exemplo, na saúde do idoso, a gente fala em envelhecimento bem-sucedido. E esse conceito, ele engloba a manutenção da capacidade funcional do idoso para ele ter um bem-estar na idade mais avançada. 

E o que é essa capacidade funcional? O que é esse envelhecimento bem-sucedido? Ele engloba três dimensões. Controle de doenças, engajamento com a vida e a manutenção da função mental e física.

Então, a gente tem alguns estudos recentes que mostram que o estilo cognitivo do idoso associado a outras intervenções que melhorem o estilo de vida com hábitos de vida saudáveis, eles fazem com que a manutenção dessa função cognitiva, previne esse declínio cognitivo que geralmente acontece com o envelhecimento. Então, a gente pode consultar um estudo, um estudo Finger, um estudo bem conhecido, em que ele pegou um grupo de idosos e ele fez uma intervenção cognitiva, e essa intervenção era um treino cognitivo, associado à melhora da alimentação, atividade física supervisionada, atividades sociais, controle de fatores de risco metabólicos e cardiovasculares durante dois anos. Então, comparando os idosos que não fizeram essa intervenção, fizeram um treino cognitivo associado a essas outras medidas, eles tiveram uma melhora na performance cognitiva, e prevenção desse declínio cognitivo que está associado à idade.

Isso, com certeza, impacta a prevenção e a diminuição desses fatores de risco que levam à demência. Então, é muito importante, não só esse estudo, mas outros na literatura recente têm demonstrado, sim, a importância dessa intervenção cognitiva, entre elas o treino cognitivo associado a essas medidas de bem-estar, de hábitos saudáveis  para a  manutenção desse status cognitivo de idoso. 


Supera – Doutora, a senhora atua na região norte do Brasil. Quais são as diferenças e desafios relacionados à prevenção de demências na região norte? 

Dra. Thaíla –
Então, nós temos algumas peculiaridades nesse processo de envelhecimento que ocorre na região norte. O que a gente sabe é que nessa região, apenas 10% da população é construída de idosos. Então, é a população menos envelhecida quando comparada às outras regiões do Brasil

Então, esse processo de envelhecimento que tem se dado, ele sofre influência de características territoriais e socioeconômicas, sim. O que a gente observa é que o paciente idoso da região norte está envelhecendo num cenário de fragilidade socioeconômica. Para exemplificar isso, a gente sabe que a maioria dos estados da região norte tem mais idosos que necessitam de benefícios para complementar a renda.

Então, realmente é um cenário que impacta  na prevenção dos hábitos de vida e acesso à saúde. Quando a gente fala na saúde cerebral do idoso, a gente tem citado também que é muito significativo, infelizmente, que a região norte é a segunda região com maior taxa de analfabetismo do país. Então, como a gente comentou anteriormente, a baixa escolaridade, a baixa qualidade de ensino, de estimulação, principalmente em fases mais jovens de vida, é um fator de risco muito importante, por exemplo, com índices de demência em idades mais avançadas. 

A gente sabe que, infelizmente, a gente sofre com essa realidade dos idosos que são analfabetos. A gente chega a ver idosos com 60, 80 anos que são analfabetos na região. E a outra questão também é a que fala do acesso aos médicos especialistas.

A gente tem dado que apenas 2% dos médicos geriatras atuam na região norte. Então, isso está muito abaixo do recomendado pela Organização Mundial de Saúde, que preconiza um médico geriatra para cada mil habitantes. Então, infelizmente, são esses desafios que a gente enfrenta na saúde do idoso na região norte.


Supera – Perfeito, doutora. E como a gente consegue driblar essa questão da escolaridade? Pode falar um pouquinho mais sobre a importância?

Dra. Thaíla –  Então, essa questão, acho que a gente tem que realmente conscientizar a população sobre a importância de, realmente, desde criança, estimular o ensino, estimular o aprendizado, que isso vai aumentar a reserva cognitiva das pessoas e também sensibilizar os gestores. Então, a gente tem que ter mais políticas públicas que atuem, realmente, principalmente nessas regiões como o norte, com altas taxas de analfabetismo, para diminuir essa incidência, para aumentar o acesso das pessoas à escolaridade e a uma boa educação.


Supera – Ou seja, políticas públicas e cuidado sempre porque o envelhecimento começa na infância. 

Dra Thaíla – Com certeza. 


Supera – Perfeito, doutora. Muito obrigada por ter compartilhado com a gente um pouquinho do seu conhecimento. Agradeço a sua presença. 


Dra. Thaíla – Eu agradeço. Foi um prazer estar aqui com vocês.

Clique aqui para assistir a entrevista.

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