Supera – Ginástica para o Cérebro

Dra. Celene Pinheiro: como o Brasil está em relação à prevenção e tratamento de demências?

Dra , Celene Pinheiro conversa com a vice-presidente do Supera, Bárbara Perpétuo, no estande da empresa no CBGG

Chegamos à sexta entrevista com especialistas em envelhecimento captada durante a 24ª edição do Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia. A entrevistada de hoje é a dra. Celene Pinheiro, médica geriatra, atual presidente do Conselho Diretor a ABRAz.

A médica conversou com a vice-presidente do Supera, Bárbara Perpétuo sobre a prevenção e o tratamento de demências no Brasil. Confira a entrevista: 

Supera – Estou hoje aqui na CBGG com a Celene Pinheiro, médica geriatra, atualmente presidente do Conselho Diretor da ABRAz, e possui uma enorme relevância e influência nas ações de prevenção e tratamento de Alzheimer e de outras demências. Doutora, como está o Brasil em relação à prevenção e tratamento de demências? E como a população idosa e quem está envelhecendo têm sido beneficiados?

Dra. Celene – Infelizmente, o cenário das demências no Brasil ainda é muito carente. Infelizmente, as necessidades dessas pessoas não têm sido atendidas e as atitudes de prevenção ainda não estão sendo instituídas. Então, a partir do momento em que a gente teve uma lei aprovada, em junho do ano passado, a Lei 14.878, a gente ficou otimista, foi um grande passo para que a gente começasse a trazer o poder público para esse tema, para conseguir melhorar todos esses aspectos que você citou. Mas, infelizmente, os políticos, ou o nosso poder público conhece muito pouco a respeito de demências e não tem estrutura bem estabelecida para o enfrentamento delas. É fundamental que a gente implante o Plano Nacional de Demências, que é recomendado pela Organização Mundial da Saúde. O prazo termina esse ano, um prazo que a Organização Mundial da Saúde estabeleceu. 

Então, a gente ainda tem que trabalhar muito nesse sentido. Nós temos medicamentos disponíveis no SUS para o tratamento da Doença de Alzheimer. A questão é que a gente tem uma baixa taxa de diagnóstico.80% das pessoas com demência não têm diagnóstico no Brasil. 

Então, se ela não tem diagnóstico, ela não vai ter acesso à medicação, muito menos atividades, recursos não farmacológicos para o tratamento dessas pessoas. O caminho que a gente tem que andar ainda é muito longo, é uma jornada para as próximas gerações, eu acredito, porque ainda é muito carente mesmo.


Supera – Isso que você falou é importantíssimo. Se a geração jovem adulta de hoje não entender que vai envelhecer e tem que assumir isso, a gente não vai mudar a história.

Dra. Celene –  O brasileiro ainda acha que o Brasil é um país do futuro e se preocupa muito em aparentar jovem. “Olha como você está bem, você não aparenta a idade que você tem”. Esse tipo de estigma, esse tipo de visão, de tipo: “não, depois eu envelheço”.

Não!! Você já está envelhecendo. E a preparação de um futuro melhor é uma preparação para você mesmo, para toda a sociedade, então, você tem que pensar no envelhecimento como uma fase da vida que vai acontecer se você tiver sucesso, se você sobreviver.

 E é uma condição que a gente não pode achar que é uma questão dos outros, é uma questão de toda uma sociedade, a sociedade brasileira envelhecendo e as questões do envelhecimento têm uma visibilidade muito pequena.


Supera –  A educação, doutora, tem sido apresentada por pesquisadores como sendo um importante fator de risco para a demência. Por que ela contribui tanto para o envelhecimento ativo e principalmente para a saúde do cérebro das pessoas idosas e daqueles que estão envelhecendo?

Dra. Celene – Olha, gente, educação, a baixa escolaridade no nosso país é o principal fator de risco para a demência. Ele tem uma contribuição ainda maior do que o próprio envelhecimento. Então, educação é fundamental para toda a nossa vida.

Ela tem um impacto maior na infância, quando o cérebro da pessoa está se desenvolvendo e que está desenvolvendo novas conexões, sinapses. Mas a educação, além desse aspecto fisiológico do cérebro, ela te dá uma outra condição de vida. Ela te dá oportunidade.

Quanto maior seu nível educacional, maiores as oportunidades que você vai ter no mercado de trabalho, melhor acesso você terá à saúde, a uma alimentação de qualidade, a aspectos sociais que te tragam menos vulnerabilidade com questões de violência, de ambientes estressantes. Você mora em bairros mais tranquilos. Então, tudo isso é parte da educação.

A pessoa que tem educação, ela tem uma auto-percepção melhor. Ela se entende, ela entende seu organismo, ela procura por ajuda, ela procura cuidar das suas outras condições de saúde, de hipertensão, colesterol, diabetes. Ela procura ter atividade física.

 Então, quando a gente fala em educação, a gente está falando de um conceito macro, de um conceito realmente transformador que transforma a vida da pessoa como um todo.


Supera – Falando de educação, quais são, diga para a gente, os benefícios que a estimulação cognitiva nos oferece através de atividades educacionais, como a do Supera? E esses benefícios podem proporcionar para a saúde geral da pessoa idosa e para quem está envelhecendo. Principalmente, quais são os benefícios para a saúde do cérebro?

Dra Celene – O trabalho que o Supera desenvolve com os idosos é muito bonito e traz para a gente muita alegria de ver. Porque a pessoa idosa, muitas vezes, não teve oportunidade de estudar. E ali, dentro do Supera, ela consegue ver que consegue aprender.

Então, você vai quebrando estigmas que ela tinha contra ela mesma, de que ela não era capaz. Então, ela começa a sentir que consegue fazer e não se sente mais aquela pessoa que era “burrinha”. Do ponto de vista físico, você, então, consegue manter a cognição ou até aprimorar a cognição.

A gente vê melhora de linguagem, do vocabulário da pessoa. A gente vê melhora no cálculo. Eles se gabam por fazer o ábaco.

E aí, eu tenho um paciente que fica brincando com o ábaco, com  o neto,  mostrando tanto que ele é bom, em contas. Então, a gente vê isso, é bem empolgante.

E tem todo um aspecto social de encontro, de combate ao isolamento. E, muitas vezes, essas pessoas não têm, ali, locais de convívio. E o Supera se torna um local de convívio.

Então, é um trabalho bonito, relevante e que impacta positivamente a saúde da pessoa idosa em vários aspectos.


Supera –  Muito obrigada, doutora!

Dra. Celene Obrigada a você!

Para assistir à entrevista, clique aqui.

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