Em entrevista ao site do SUPERA, o jornalista Fernando Aguzzoli Peres fala sobre sua atuação como membro do Conselho do Centro Internacional de Longevidade no Brasil (ILC-BR), novos projetos e expectativas para o pós pandemia.
Os últimos anos foram agitados na vida do jornalista brasileiro Fernando Aguzzoli, hoje com 29 anos. Fernando, que é apoiador do Método SUPERA, é escritor, natural do Rio Grande do Sul e autor das obras “Vovô é um Super-Herói” (Saber e Ler, 2019), livro infantil sobre a velhice, o Alzheimer e suas limitações e “Quem, Eu?” (Paralela, 2015) em que o autor conta a trajetória pessoal de sua avó Nilva, acometida pelo Mal de Alzheimer.
Em 2020, o escritor lançou seu terceiro trabalho voltado para cuidadores de idosos: Alzheimer não é o fim (Fontanar, 2020). Com a acentuação da pandemia no Brasil, o jornalista contou como tem lidado com este momento e falou sobre sua atuação como membro do Conselho do Centro Internacional de Longevidade no Brasil (ILC-BR), além de sua colaboração ao jornal Folha de São Paulo no projeto “Como chegar bem aos 100“, que trata sobre longevidade, confira:
O jornal Folha de São Paulo, um dos mais importantes do país, iniciou um projeto para falar de longevidade, em comemoração aos 100 anos da publicação. Como você avalia esta iniciativa em uma data tão simbólica?
Ainda em 2020, a Folha de São Paulo lançou uma série de colunas intitulada “Como chegar bem aos 100” para comemorar o centenário do jornal.
A curadoria dessas matérias, que abordaram desde saúde mental e intergeracionalidade, até moradia e mercado de trabalho, ficou sob responsabilidade do Prof. Dr. Alexandre Kalache. Pra quem trabalha com envelhecimento, Kalache é o “Mestre dos Magos”, o “Yoda”, o “Gandalf”, o “Dumbleodore”!
A trajetória do homem não é brincadeira não, logo já deu para sentir que ia ser sucesso… e foi! Se alguém nesse país sabe como chegar bem aos 100, deve ser Kalache, que com 75 anos está a pleno vapor e não descansou um segundo durante o obscurantismo que o Brasil viveu nessa pandemia desgovernada. Saiu em defesa dos seus, sempre falando em primeira pessoa e assumindo seu posto de idoso com orgulho venerável.
A longevidade PRECISA ser pauta. Não há como ignorar que o maior determinante de sucesso para o ser humano é o aumento na sua expectativa de vida, mas também não podemos esquecer os antigos e novos desafios que se fazem presentes em decorrência desse envelhecimento demográfico. O ato do jornal Folha de São Paulo é louvável e ao que tudo indica terá vida longa nas pautas sobre o envelhecimento.
Como foi dar a sua contribuição ao projeto da Folha? Foi uma colaboração pontual ou deve continuar?
Eu já havia contribuído algumas vezes para o jornal por meio do blog da Camila Appel [1] [2], sobre morte e morrer! Já no projeto do centenário da Folha foram duas colunas: a primeira em coautoria com o Kalache, onde falamos sobre relações intergeracionais e legado, e essa mais recente que compartilha o título de meu novo livro “Alzheimer não é o fim” – e não é mesmo! É sempre uma honra participar de projetos com um propósito social em defesa de causas importantes e atuais.
Você agora é membro do Conselho do Centro Internacional de Longevidade no Brasil (ILC-BR). Como foi este convite?
Em 2020, quando eu ainda estava na Irlanda como Fellow do Global Brain Health Institute, o Dr. Kalache e a Elisa Monteiro me chamaram para uma reunião virtual – como tudo mais nesse universo pandêmico. Foi uma grata surpresa! Aliás, foi realmente uma surpresa descobrir que em 2014, quando lancei o livro “Quem, eu?“, Kalache havia me entrevistado para o seu então programa na Rádio CBN. Veja só, naquela época eu mal sabia o que era longevidade.
Achei que a minha “trajetória” com o Alzheimer teminaria com meu luto publicado através do primeiro livro, mas jamais imaginaria todo esse caminho percorrido. Aí, anos depois, ele me chamou para uma reunião e eu já consciente de quem é ele, surtei em felicidade. Temos uma relação muito sincera de admiração e mentoria.
Aprendo com cada conversa que temos, não só sobre a envelhecimento, mas sobre vida no sentido amplo. Dessa primeira conversa surgiu o convite para integrar o grupo de coordenadores focais do ILC – BR, onde assumi a temática “Comunicação e Envelhecimento”.
Como tem sido esta experiência?
Sem palavras. O mais incrível são as conexões. Todos os coordenadores focais são dedicados e tem expertises invejáveis – no ótimo sentido. São referências em assuntos específicos, mas todos com importantes intersecções que nos permitem discussões, projetos e eventos para destacar uma ou mais temáticas relevantes. Eu não sei como Kalache arranja tempo, honestamente, mas é só um de seus coordenadores prender o grito que lá estarão ele e Elisa para acreditar na ideia e fomentar engajamento.
Qual é o seu trabalho e limite de atuação como conselheiro no Centro Internacional de Longevidade no Brasil?
Nossa função é essencialmente manter a pauta ativa! Buscar maneiras de dialogar com a sociedade, de criar projetos, de pautar discussões relevantes é nosso propósito no ILC. Se alguém procura Kalache com uma pauta sobre envelhecimento e questões raciais, temos o querido Alexandre da Silva para dar uma aula! Se a pauta for sobre Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI’s), Karla Giacomin entra em ação. Nosso presidente não centraliza, ele distribui. Faz parte de seu bonito legado na construção das futuras lideranças. Em contrapartida, todos nós carregamos com orgulho a logo do ILC onde quer que estejamos.
Como está o seu trabalho durante a pandemia?
Estou focado em projetos para diversificar modelos de assistência para pessoas com demência no Brasil, dentre eles a criação da Aliança Demência Brasil, que visa reunir stakeholders para buscar por oportunidades e recursos para profissionais brasileiros inovarem em seus campos de atuação.
Além disso, pelos próximos 12 meses estou promovendo uma série de entrevistas com pessoas vivendo o Alzheimer e seus familiares, o resultado será um livro sobre o impacto da comunicação clínica na vida de quem vive a demência no dia a dia. O projeto é financiado pela Alzheimer’s Association, Global Brain Health Institute e Alzheime’s Society, e administrado pelo Instituto Moriguchi.
De que forma a pandemia impactou no seu trabalho?
Aquilo que mais me dá prazer hoje é inconcebível. Como reunir 200 ou mil pessoas no mesmo auditório para palestras cheias de gargalhadas, lágrimas e outras emoções? As palestras do projeto “Quem, eu?” estão em stand-by. Sinto muita falta dessa conexão olho no olho. De ouvir um auditório rindo em coro, ao invés de palestras via Zoom com centenas de câmeras desligadas e microfones silenciados. Não é a mesma coisa!
Já tem planos para o pós vacina?
Tenho alguns projetos bem interessantes para o primeiro semestre de 2022, quando esperançosamente o mundo voltará ao “normal”. Temos dois projetos de pesquisa em análise para financiamento e dois livros no forno além de um super projeto que será único no país!