
A velhice, que antes era um privilégio alcançado por poucos, hoje se tornou uma realidade cada vez mais comum, mesmo em contextos de maiores vulnerabilidades sociais. Porém, com o aumento da expectativa de vida, surgem desafios relacionados à qualidade dessa longevidade.
Um dos aspectos fundamentais para enfrentar esses desafios é o fortalecimento das relações sociais, muitas vezes enfraquecidas ao longo do processo de envelhecimento. Nesse contexto, a participação em atividades em grupo tem se mostrado uma ferramenta poderosa para promover o bem-estar, a saúde e a autonomia da pessoa idosa.
O envelhecimento muitas vezes traz mudanças significativas na rede social, como o afastamento de colegas após a aposentadoria, a perda de entes queridos ou até mesmo a diminuição de interações familiares. Essas transformações podem levar ao isolamento social, um fator reconhecidamente prejudicial à saúde física e mental.
Estudos indicam que a participação em grupos sociais não apenas reduz a solidão, mas também contribui para o fortalecimento do senso de pertencimento e para o desenvolvimento de novos laços. De acordo com João et al. (2005), estar em um grupo social permite à pessoa idosa resgatar vínculos, compartilhar experiências e se conectar com outras pessoas que vivenciaram contextos históricos e culturais semelhantes.
Além dos benefícios emocionais, as atividades em grupo desempenham uma promoção da saúde cognitiva. As interações sociais estimulam áreas do cérebro ligadas à memória, ao raciocínio e à atenção. Victor et al. (2007) destacam que a socialização em contextos de estimulação cognitiva ajuda as pessoas idosas a construir uma visão mais positiva do futuro, reforçando sentimentos de propósito e satisfação com a vida. Assim, atividades que combinam desafios cognitivos e interações sociais, como jogos, oficinas e discussões em grupo, têm o potencial de impactar diretamente a saúde mental e emocional.
Projetos como o Envelhecimento Saudável (Bittar et al., 2011) ilustram bem essa dinâmica. Realizado semanalmente em Carneirinho, esse projeto reúne pessoas idosas para atividades como palestras, dinâmicas e oficinas criativas, sempre com a presença de uma equipe interdisciplinar.
O impacto positivo dessas ações foi evidenciado em um estudo que comparou pessoas idosas participantes e não participantes do projeto, revelando que o engajamento em atividades grupais reduziu significativamente os sintomas depressivos e aumentou a percepção de qualidade de vida entre os envolvidos.
A socialização em grupo também favorece o fortalecimento da autoestima e o sentimento de pertencimento. Quando a pessoa idosa percebe que suas vivências e contribuições têm valor, ela se sente mais integrada e motivada a continuar participando. Além disso, a interação com outras pessoas amplia a troca de saberes, promovendo um aprendizado mútuo e contínuo.
É evidente que investir em atividades grupais voltadas às pessoas idosas é uma estratégia eficaz para promover o envelhecimento saudável e ativo. Porém, para que essas iniciativas alcancem um número maior de pessoas, é necessário o envolvimento de políticas públicas e da sociedade como um todo. A criação de espaços acessíveis e a oferta de programas diversificados podem garantir que mais pessoas idosas tenham acesso a esses benefícios, prevenindo o isolamento e fortalecendo suas redes de apoio.
Promover a socialização na velhice não é apenas uma ação de cuidado, mas um compromisso com um futuro mais inclusivo e humano. Afinal, envelhecer com qualidade de vida depende, acima de tudo, da possibilidade de compartilhar histórias, construir novos laços e continuar sendo parte ativa de uma comunidade que valoriza cada etapa da vida.
Referências:
João, A.F.; Sampaio, Â.A.Z.; Santiago, E.A.; Cardoso, R.C. & Dias, R.C. (2005). Atividades em grupo – alternativa para minimizar os efeitos do envelhecimento. Textos Envelhecimento, 8(3).
Victor, J.F.; Vasconcelos, F.F.; Araújo, A.R.; Ximenes, L.B. & Araújo, T.L. (2007). Grupo Feliz Idade: cuidado de enfermagem para a promoção da saúde na terceira idade. Rev.Esc.Enferm.USP, 41(4): 724-30.
BITTAR, Cléria; DE LIMA, Lara Carvalho Vilela. O impacto das atividades em grupo como estratégia de promoção da saúde na senescência. Revista Kairós-Gerontologia, v. 14, n. 3, p. 101-118, 2011
Profa. Dra. Thais Bento Lima da Silva – Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Mestra e Doutora em Ciências com ênfase em Neurologia Cognitiva e do Comportamento, pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Docente do curso de Bacharelado e de Pós-Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É parceira científica do Método Supera. Coordenadora do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da Universidade de São Paulo. E-mail: thaisbento@usp.brMaria Antônia Antunes Fernandes – Bacharel em Gerontologia pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP). Foi bolsista de iniciação científica PUB do projeto: “Intervenções psicoeducativas para a COVID-19 aliada à estimulação cognitiva no programa USP 60 +”. Atualmente é colaboradora do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da USP (GETCUSP), atuando na área de pesquisa em treino cognitivo de longa duração. E-mail: aantoniaantuness@gmail.com