
O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2025, “Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira”, é um convite para a sociedade refletir a relevância das discussões sobre o envelhecimento populacional e seus impactos sociais. Segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o número de pessoas com 60 anos ou mais inscritas no exame aumentou de 5.900 em 2022 para 17.192 em 2025, representando um crescimento de aproximadamente 191% (Brasil, 2025a). Esse número representa a ampliação da presença das pessoas idosas em espaços historicamente associados à juventude e reafirma a educação como dimensão fundamental da participação social ao longo da vida.
O envelhecimento populacional é um dos fenômenos mais significativos do século XXI. No Brasil, a transição demográfica tem ocorrido de forma acelerada, com aumento da expectativa de vida e redução das taxas de fecundidade. Estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que, até 2050, cerca de 30% da população brasileira terá 60 anos ou mais (IBGE, 2024). Nesse contexto, torna-se essencial discutir as implicações sociais, econômicas e culturais do envelhecimento, incluindo a forma como a sociedade reconhece, valoriza e integra as pessoas idosas em diferentes domínios, como a educação.
A escolha do tema da redação do Enem 2025 indica um avanço simbólico e pedagógico. Ao propor reflexões sobre as “perspectivas” do envelhecimento, o exame convida estudantes de diferentes gerações a refletirem sobre os desafios e oportunidades de uma sociedade longeva. Sob a ótica gerontológica, o envelhecimento envolve um processo multifatorial influenciado por determinantes biológicos, psicológicos, sociais, culturais e ambientais. Nesse contexto, a forma como cada pessoa envelhece é modulada pela interação entre esses fatores e pelas oportunidades de acesso à educação, à saúde, à cultura e à participação social.
A presença significativa de pessoas idosas no Enem está alinhada ao conceito de aprendizagem ao longo da vida, reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um pilar do envelhecimento ativo. A busca por formação, requalificação profissional ou realização pessoal reforça a capacidade de adaptação e o desejo de permanecer social e cognitivamente engajado. Do ponto de vista da gerontologia, esse comportamento contribui para a manutenção da capacidade intrínseca, definida pela OMS como o conjunto de atributos físicos e mentais que sustentam o funcionamento e o bem-estar ao longo do tempo.
A escolha do tema da redação e o crescimento do número de candidatos idosos podem estar associados, uma vez que ambos apontam para uma mudança de paradigma: o envelhecimento é evidenciado como um processo social e educativo, que envolve direitos, oportunidades e políticas de inclusão. Esse olhar dialoga diretamente com as metas da Década do Envelhecimento Saudável (2021–2030), iniciativa da OMS que destaca a necessidade de criar ambientes acessíveis, combater o idadismo e promover a aprendizagem ao longo da vida.
Dessa forma, o Enem 2025, ao abordar o envelhecimento e atrair número crescente de pessoas idosas, torna-se um marco simbólico e prático na construção de uma sociedade mais inclusiva. Ele evidencia que a longevidade, além de ser um dado demográfico, é um campo de possibilidades em que educação e envelhecimento se articulam como pilares de cidadania, participação e dignidade ao longo de todo o curso da vida.
Leia também: Desempenho cognitivo e estilo de vida de pessoas idosas centenárias
Referências:
Brasil. Ministério da Educação. (2025a). Enem cresce o número de participantes 60+. Disponível em: https://www.gov.br/mec/pt-br/assuntos/noticias/2025/novembro/enem-cresce-o-numero-de-participantes-60
Brasil. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. (2025b). Tema da redação do Enem 2025: Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira. Disponível em: https://www.gov.br/inep/pt-br/centrais-de-conteudo/noticias/enem/tema-da-redacao-perspectivas-acerca-do-envelhecimento-na-sociedade-brasileira
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). (2024). Projeções de população: Brasil e unidades da federação.
Organização Mundial da Saúde (OMS). (2020). Década do Envelhecimento Saudável 2021–2030. Genebra: OMS.
Assinam esse texto:
Profª Msc. Gabriela dos Santos – Docente do curso de Medicina da Universidade Santo Amaro (UNISA). Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Gerontologia pela Universidade de São Paulo (USP), Graduada em Gerontologia pela USP, com Extensão pela Universidad Estatal Del Valle de Toluca. É pesquisadora no Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da USP e atua com estimulação cognitiva para pessoas idosas.
Profa. Dra. Thais Bento Lima da Silva – Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Mestra e Doutora em Ciências com ênfase em Neurologia Cognitiva e do Comportamento, pela Faculdade de Medicina da USP. Docente do curso de Bacharelado e de Pós-Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP (EACH-USP), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e vice-diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É parceira científica do Método Supera. Coordenadora do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da Universidade de São Paulo.